sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O Tufão


As parangonas anunciaram uma terrível e dramática tragédia: um tufão tinha varrido do mapa a região central das Filipinas, causando, numa só cidade, 10 mil mortos...

Durante três dias as imagens da devastação inundaram as televisões, com os pivots dos noticiários a salivarem cada vez que repetiam a notícia choque do drama: 10 mil mortes, numa só cidade!

Até que o governo filipino anunciou o balanço oficial de mortos: 4.011 vítimas...

Vivemos na era da estúpida voracidade mediática; mas, o que me importa, é discutir o sentido disto tudo; por exemplo: porque é que uma moça grávida chamada Nanette Salutan, de 40 anos, da cidade de Tacloban (a mais afectada pela tragédia), é arrastada pelas correntes, dribla árvores e postes caídos, e acaba a parir num hospital improvisado, à luz de uma simples lanterna?!

Nanette safa-se nas condições mais inacreditáveis, mas a sua vizinha da frente, Mary Leon, finou-se com os primeiros ventos... Que injustiça gritante é esta?! Faz sentido acreditar que um Deus bom criou este mundo e recheou-o de sofrimento inocente?!

 Leibniz, o matemático e filósofo de Leipzig (1646-1716), encontrou uma solução para esta aparente contradição; declarou, solenemente, que vivemos no melhor dos mundos possíveis!

Segundo Leibniz, Deus, de entre as infinitas possibilidades de organizar o mundo, escolheu a melhor de todas as possíveis, ou seja, a que mais se assemelhava à sua perfeição.

O mundo seria, à priori, como o Deus que Leibniz defendia: racional, perfeito e bondoso. E então, como é que o filósofo justificava o mal e o sofrimento que, muitas vezes, inunda o mundo?!

Leibniz diz-nos, simplesmente, que o número de condenados é muito superior à quantidade dos que se salvam; e que, mesmo nas maiores desgraças, há sempre lugar para algum tipo de redenção...

Vejamos se a teoria se aplica às desgraças recentes da política figueirense:

O partido socialista encontra-se em campanha eleitoral, com dois candidatos de peso: o recandidato João Portugal, deputado da A.R. e novo vereador sem pasta de João Ataíde, e Tiago Castelo Branco, chefe de gabinete do mesmo Presidente da Câmara... Reparem: João Ataíde permitiu que o seu chefe de gabinete se envolvesse num confronto eleitoral com um seu vereador!

E sabem como é feita esta campanha?! Pagando quotas a centenas de militantes! Nem um pingo de discussão política, o que conta é arranjar dinheiro para pagar quota ao rebanho que vota no cacique que lhe prometa mais cargos, favores ou uma qualquer sinecura...

O partido socialista acabou... Mas há questões prementes a colocar: que interesses patrocinam estas campanhas?! O que é que recebem em troca? Tiago Castelo Branco está a utilizar o seu cargo camarário como argumento eleitoral? E João Portugal, continua a utilizar o telefone da Assembleia da República para arrebanhar os militantes do PS figueirense?!    

Mas digam-me: este PS tem salvação? Este é o melhor dos mundos rosas possíveis?!

Já Miguel Almeida, após a estrondosa derrota de Setembro passado, regressou à liça dando uma entrevista a um jornal local; nesta, Almeida garante que tem vontade de se voltar a recandidatar... Reparem: este homem, que passou um ano em campanha eleitoral; que contactou centenas de figueirenses nas visitas que fez a praticamente todas as instituições e grandes empresas do concelho; que gastou milhares de euros numa campanha milionária onde prometeu tudo a todos; vem agora garantir que quer recandidatar-se, apesar de ter tido um dos piores resultados da história autárquica do PSD!

Miguel não está agarrado ao poder como uma lapa?! É este o amor que Almeida tem ao PSD, desejar a reedição de uma derrota anunciada? É este o melhor mundo laranja possível?!

E é este o melhor mundo possível?! Ainda há esperança na redenção?!

Quanto custa um bilhete para as Filipinas?

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Teatro


“O pior teatro do mundo é a vida”; conhecem frase mais cruel e definitiva?!

Piotr Fomenko - o famoso encenador russo que faleceu o ano passado - é o autor da frase-chave e de uma explicação curiosa quanto ao momento em que o seu teatro se forjou, em plena 2 Guerra Mundial: “Tinha dez anos e vivia com a minha mãe. Uma noite, um bombardeamento mais forte do que os outros deixou-me em estado de choque. Tornei-me um pouco louco. O meu interesse pelo teatro começou com essa loucura. Nada de extraordinário, porque o teatro está cheio de loucos. Se tivesse sido uma pessoa mais razoável, jamais teria podido suportar esta vida”.

Querem acreditar que, comigo, ocorreu algo de similiar graças à política figueirense?!

João Ataíde decide vetar a presença de público numa das reuniões de Câmara, no momento em que a Câmara é considerada a autarquia mais transparente do país...

O PS justifica a decisão com a necessidade de recato, de forma a que os municípios “concorrentes” não tomem conhecimento de “alguns assuntos estratégicos” discutidos em reunião de Câmara?!

 O PSD, em vez de se rir desbragadamente do medo do big brother, ataca violentamente Ataíde, quando na maioria dos municípios portugueses – como as autarquias PSD de Coimbra e Aveiro - só uma das sessões de Câmara é pública...

Ataíde preencheu o seu gabinete com um secretário que é jurista de profissão?! O homem esteve, pelo menos, 5 anos a estudar constitucional, administrativo, reais, obrigações, com alguns dos melhores lentes de direito do país, e acaba nisto, a escrever cartas para o Sr. Presidente ...

João Portugal, o político que passou 4 anos a difamar João Ataíde, não teve vergonha nenhuma e acabou vereador de Ataíde! E o Presidente, em vez de colocar o rapaz a trabalhar – já é tempo! – transforma-o num vereador sem tempo e sem pasta...

Quem consegue explicar toda esta insanidade?!

Porque é que ninguém discute o que é verdadeiramente relevante?!

Fez sentido João Ataíde ter ido buscar para vereadora Ana Oliveira, uma cidadã que nunca tinha intervido politicamente até ao dia em que colocou os pés na Câmara?! Faz sentido o Presidente concentrar em si “pelouros” fundamentais, como o financeiro e o administrativo, quando tem toda uma autarquia para governar?! E fez algum sentido a arrogância e pesporrência com que Ataíde respondeu à oposição, na primeira reunião do Executivo?!

Realmente, “o pior teatro do mundo é a vida” política...

 

P.S. - Sabem como é que o gabinete de João Ataíde descreveu as parcas atribuições de João Portugal no Executivo? Desta forma: João irá coadjuvar nas “questões de promoção e apoio a medidas e acções visando o desenvolvimento do comércio e da qualidade da oferta turística do município”.

Perceberam?! Existe a Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz, mas será o inefável João Portugal a desenvolver o comércio figueirense! E quanto à “qualidade da oferta turística do município”, o que irá fazer Joãozinho?! Vai inspeccionar a qualidade de todos os quartos de hotel, pensões e residênciais do burgo?! Vai provar todas as iguarias servidas à turistada nos restaurantes do concelho?!

Há momentos em que fico com pena que a Câmara da Figueira seja  considerada a mais transparente do país; porque é que esta frase tonta não ficou guardada a sete chaves?!