terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

A Vontade


Arthur Schopenhauer garantia que o mundo não passava disto: vontade e representação...

Leio os periódicos locais, e constato que João Ataíde teve vontade de contratar o cançonetista Emanuel para este carnaval; pelos vistos, o pimba representa na perfeição o carnaval da Figueira...

 O que não espanta: Schopenhauer garantia que não era a razão que comandava o mundo, antes, os caprichos da vontade; talvez seja por isso, cogitamos, que a Câmara da Figueira continua a organizar uma festarola que dá 50 mil euros de prejuízo e não é um foco de atracção turística.

Pior: João Ataíde luta pela vinda do turismo de qualidade para a cidade, enunciando, até, o sonho de os navios de cruzeiro atracarem no porto da Figueira, e depois contrata o pimba Emanuel para o grande carnaval... “O perfeito homem do mundo seria aquele que jamais hesitasse por indecisão e nunca agisse por precipitação”, escreveu Schopenhauer na obra Aforismos para a Sabedoria de Vida.

No campo oposto, temos Emmanuel Kant, que via o mundo somente dirigido pela razão pura.
No entanto, o filósofo admitia a existência da razão prática, ligada à intuição e ao sentimento; pois há uma realidade absoluta em todas as consciências deste mundo: a noção moral, a nossa obrigação ética. Kant chamava-lhe o imperativo categórico: a distinção definida do que está certo e errado.

Há uns meses atrás, o Hospital da Figueira solicitou à Câmara Municipal apoio para disciplinar o trânsito no parque de estacionamento do hospital; pelos vistos, na época balnear, o parque é utilizado abusivamente pelos veraneantes e os doentes não têm lugar para estacionar as viaturas.

A autarquia, imbuída do imperativo categórico, “emprestou” 80 mil euros ao Hospital da Figueira para que este instalasse um sistema de estacionamento pago. Repito: uma Câmara, que “faliu” há meia dúzia de anos, emprestou 80 mil euros ao governo central!   

Realmente, o imperativo categórico dá cabo da razão pura; resta-nos a vontade e a representação deste mundo pimba...

 

 

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Clic


É muito simples: pega-se no rato e clic... Leio uma frase linda, tipo: “o que machuca não é o amor, são as pessoas. O amor é só um sentimento”, e clic; um gatinho amoroso, clic; a nova foto de perfil de uma tipa que conheci no Verão de 1990, mas que agora é muito minha amiga no facebook, e clic; gosto!

Basta um simples dedinho para avançar com um gosto, e triliões de dedinhos clicam sem piedade por esse mundo fora; clicam, claro, no banal, no corriqueiro, no vazio; nada mais terapêutico...

O mundo da internet é tão vazio quanto a nossa existência; num duplo sentido: é, por um lado, o espelho da sociedade de massas oca e, por outro, o repositório de todos os desejos do homem, esse motor do mundo que disfarça a futilidade e vacuidade da existência humana.

Desejamos ser reconhecidos e, até, venerados, então publiquemos vídeos ou frases giras no facebook; não há nada mais esfuziante do que 50 ou 100 gostos num post da nossa autoria! E se não encontramos nenhuma frase ou vídeo mágico, avancemos para as fotografias de gatinhos, cãezinhos ou chimpanzés, resultam sempre...

Depois, temos o país com opinião política: pouca gente lê ou reflecte sobre a realidade do mundo, mas toda a gente tem um qualquer bitaite para dar; e a internet amplifica o fenómeno!

Recentemente, na Figueira, o Executivo autárquico decidiu não permitir a presença de público numa das reuniões de Câmara. Refira-se que, a lei, apenas impõe a presença de público numa das reuniões. Mais: as decisões tomadas nas reuniões sem público continuam a ser publicitadas na imprensa; a oposição está sempre presente; a Assembleia Municipal, o Tribunal de Contas, a Inspecção-Geral de Finanças, continuam a fiscalizar todas as decisões do Executivo; em todo o país, maiorias, da esquerda à direita, tomaram a mesma decisão, etc, etc.

E reparem no seguinte: a Câmara é um órgão executivo tal como o governo da república, cujas reuniões do Conselho de Ministros são todas privadas; ou seja, ninguém se lembraria de chamar de ditador a Passos Coelho só porque reúne em privado com os seus ministros!

Pois bem, na Figueira, a blogosfera acéfala chamou todos os nomes reais e imaginários a João Ataíde quando uma das reuniões foi encerrada ao público! Ditador foi a adjectivação mais simpática que lhe atribuíram...

A maioria da blogosfera figueirense não reflecte, não é séria nem tenta ser isenta... Pior: argumenta, frequentemente, recorrendo ao insulto pessoal; uma vergonha...

Recentemente, o vereador da cultura e vice-presidente da autarquia, António Tavares, passou a ser cronista do diário As beiras; os seus textos têm versado os temas candentes da actualidade: o desemprego, a educação, etc, etc, etc. Pois bem, imaginem como a blogosfera reles e rasca classificou os textos de António Tavares: são uma “merda”...

Reparem nisto: António Tavares é um homem das letras, com várias peças de teatro, ensaios e livros editados. Em 2013, concorreu com um romance inédito ao prémio literário Leya, o maior prémio literário da lusofonia, com um prémio monetário de 100 mil euros. Concorreram 491 romances, provindos de 14 países – esta foi a edição mais concorrida e internacional de todas, com romances oriundos da Alemanha, Angola, Brasil, Espanha, E.U.A, França, Guiné-Bissau, Itália, Luxemburgo, Macau, Moçambique, Portugal, Reino Unido e Suécia. O Júri do concurso inclui gente tão distinta como Manuel Alegre, Nuno Júdice, Pepetela, o Reitor do Politécnico e Universitário de Maputo, Lourenço do Rosário, ou uma professora universitária da Universidade de São Paulo, Rita Chaves, entre outros.

Pois bem, das 491 obras, este ilustre júri seleccionou 7 romances, entre eles, “As palavras que me hão-de guiar um dia”, de António Tavares...

 Palavras para quê?! Afinal, as “merdas” escritas por Tavares têm algum valor, pelo menos, para um júri internacional...

Mas não há nada a fazer: esta blogosfera rasca recorre à maledicência para sublimar as suas frustrações; vai continuar por aí, na maior impunidade, a insultar tudo e todos...

A internet é, de facto, o repositório de tudo o que é bom e mau na sociedade; é pena a Figueira não ter sido bafejada pela sorte...

 

domingo, 26 de janeiro de 2014

A Felicidade


A Figueira precisava de um “Happy Days – Promoting Positive Mental Health for Young People”, e a Escola Secundária Dr. Bernardino Machado fez-nos a vontade: promoveu um fórum para desenvolver o “espírito optimista” dos figueirenses e, aparentemente, o seminário resultou em cheio: não páram de afluir notícias banais e positivas aos periódicos locais!

O Instituto de Socorros a Náufragos da Figueira recebeu uma nova e imponente embarcação para o seu serviço – um semi-rígido com menos de 9 de comprimentos! – e a Marinha em peso esteve presente na inauguração do grande navio: Chefe do Estado-Maior da Armada e Autoridade Marítima Nacional, o Vice-Almirante; sem contar com o pároco, Presidente da Câmara, etc, etc. Foi um “happy day” esta inauguração...

 A Sociedade Filarmónica Quiaense vive um dos seus “melhores momentos” – garantem os responsáveis pela colectividade – mas ninguém quer dirigir a associação recreativa... O Caceirense, então, teve um 2013 em “grande”, com “muitos milhares de euros” investidos na colectividade, o que permitiu, inclusive, criar uma casa de banho para cidadãos com deficiência!

É claro que há pequenos sustos: um barco de perca artesanal meteu água em pleno Cabo Mondego, mas conseguiu regressar a bom porto – pelos vistos, a embarcação “Ilídio Fradoca” foi atacada pela “bactéria” da madeira e esta originou 2 grandes rombos no casco! E nem vos falo na grua consumida pelas chamas no cais comercial, com o sinistro a ser combatido “em altura” e com uma “emulsão de espuma orgânica”!  

Mas estas pequenas nuvens não contrariam o curso da história: o reino figueirense segue feliz...

Há uns meses atrás, antes das eleições autárquicas, a imprensa era inundada de discussões e querelas, propostas e manifestos, acusações e polémicas sem fim... O que resta desse tempo de desassossego?!

Onde estão as promessas catitas do PSD, como a diminuição do areal da praia, os 12 grandes eventos de animação, o festival de cinema ambiental, de arte contemporânea e de arte urbana, o estacionamento e a internet gratuita, etc, etc; pode um partido apresentar mil propostas milionárias em campanha e, depois, só porque perdeu as eleições, varrer para debaixo do tapete tudo o que prometeu aos figueirenses?! A oposição não deve apresentar as suas propostas em reunião de Câmara? E a maioria socialista, quando é que nos apresenta um qualquer projecto “happy”?!

Já sei como a maioria vai responder: o Executivo conseguiu para a Figueira uma estátua de Sri Chinmoy, única no país e a vigésima primeira em todo o mundo!

Antes de mais: quem é Sri Chinmoy?

Chinmoy Kumar Ghose, natural do Bangladesh, ficou órfão aos 12 anos e entrou numa comunidade espiritual indiana onde passou vinte anos a orar, meditar, compor poemas, canções espirituosas, ensaios, a praticar o atletismo, etc. No site de Sri Chinmoy, garante-se que o Sry teve “muitas experiências interiores profundas e nos anos seguintes alcançou estados muito elevados de meditação”. De tal maneira que, em 1964, Kumar Ghose mudou-se para Nova Iorque, terra propícia a elevados estados de meditação...

E pronto, Chinmoy nunca mais parou de meditar e de espalhar a mensagem da paz, amizade e harmonia, e, claro, não parou de correr, maratonas, ultramaratonas, corridas de fundo, menos fundo, e acabou por criar a Peace Run, que, de dois em dois anos, transporta a tocha da paz pelo mundo.

A tocha acabou por passar pela Figueira e, por artes mágicas, uma estátua do Sri assentou arraiais junto ao rio, em frente ao Forte de Santa Catarina. Já o viram por ali?! Faces orientais, ar bonacheirão, careca e com uns dois metros e meio de altura, Chinmoy ostenta uma tocha em forma de cruz (muito cristã) na mão...

Mas, pergunta toda a cidade: porque é que João Ataíde colocou uma estátua de um oriental bonacheirão numa praça pública?! O que é que tem de “happy” esta réplica em metal do Sri?!

Eu explico: Chinmoy lutou pela paz mundial mas, fundamentalmente, bateu-se pela meditação como meio de alcançarmos a felicidade plena... Curiosamente, Freud também defendeu a importância de nos abstraírmos da realidade miserável que nos circunda; o pai da psicanálise apresentou, até, os dois meios mais eficazes para enfrentarmos o sofrimento: as substâncias tóxicas e a loucura...

Infelizmente, concluiu Freud, as drogas e a loucura levariam a civilização ao declínio total; por isso, tentei seguir o método aparentemente inofensivo de Chinmoy: sentei-me, cerrei os olhos, relaxei, abstraí-me do mundo...

Senti-me zen pela primeira vez na minha vida, preparadíssimo para conhecer as últimas do mundo, mesmo as realidades mais atrozes; vejamos:

O governo garantiu que, em 2013, iria cortar 300 milhões de euros nas parcerias público-privadas. Acontece que, na verdade, cortou metade deste valor... Pelo menos, nos cortes dos ociosos funcionários públicos e desempregados não houve falhas ou equívocos...

Aguiar-Branco, Ministro da Defesa, encerrou os estaleiros navais de Viana do Castelo com a justificação que a Comunidade Europeia exigia à empresa a devolução de ajudas europeias no valor de 180 milhões de euros. Acontece que Joaquim Almunia, Comissário Europeu do sector, garantiu recentemente que a Comissão nunca exigiu essa verba...

João Portugal, o deputado que nada faz e nada diz na Assembleia da República, decidiu dar um ar da sua graça abstendo-se na questão do referendo à co-adopção... Joãozinho alinhou na golpada da direita mais tonta, radical e reaccionária!

E pronto: graças a João Ataíde e à meditação de Sri Chinmoy, as realidades mais dramáticas transformam-se em graças divinas! Milhares de turistas virão à Figueira na ânsia de encontrar esse reino espiritual sem deputado, partido ou governo mentiroso e incompetente!

Viva João Ataíde, viva Sri Chinmoy, viva a Figueira happy!

domingo, 5 de janeiro de 2014

A Alvéola


Aparentemente, o país cresce... Sobem as exportações e o emprego, descem as falências e insolvências; o Prof. Marcelo – um predestinado - garante que o chumbo do Tribunal Constitucional ao corte das pensões não vai enervar os mercados e que o Ronaldo vai vencer todas as Bolas de Ouro da humanidade...
Na Figueira da Foz, a administração do novo “hotel titanic” da Ponte Galante garante que o empreendimento criará 100 postos de trabalho?! Ataíde, entusiasmado, fala em “pólo de crescimento” turístico, em “navios de cruzeiro” na barra da Figueira e na “exploração turística de mercados internacionais”...

Nesta quadra, a cidade foi transformada numa “Cidade Natal”, com luzinhas, casinhas, musiquinha, “fun zone”, karts a pedal, insufláveis e uma exposição de 750 “pais natais” no meeting point - uma das “maiores do mundo!”, garantiu o responsável pela mostra.

A “Associação de Apoio à Crise” realizou uma parada de “pais natais” que juntou 12 camiões, o Tino de Rãs, o Grupo de Dança BWS com Carmencita ou as Next Generation... “Este foi um grande balão de ensaio para, num futuro, vermos a Figueira falada por todo o mundo com esta grande parada”, garantiu Quim Madeira, da organização...
Infelizmente, estas maravilhas surpreendem-me no momento em que tomo conhecimento de uma tragédia: o passarito que vivia no E. Leclerc desapareceu!

Recordam-se dele, do texto que escrevi há três anos atrás? Rezava assim: “Sabiam que no E.Leclerc vive um pardalito? É um pardal, igual a tantos outros, mas figueirense, desmesuradamente esperto, de tal maneira que se refugiou logo na zona dos congelados; como sabem, qualquer ave concelhia tem sempre de fugir do calor “inigualável” da praia da claridade. Adiante. O pardal voa no paraíso E.Leclerc sem freio, receio ou preocupação, a catita ave é livre, totalmente livre, não espera um “amanhã que cante”, nada, só deseja debicar sem cessar os produtos guia, aqueles com 50% de desconto em cartão; é claro que quem vai poupando assim é feliz, não almeja mais nada, nem sequer repara na moça da charcutaria, a do turno da noite: formas generosas, paio fresco a toda a hora, soldo miserável por 12 horas de jornada solitária; será que o passarito algum dia vai reparar na moça? E que a moça vai algum dia melhorar a sua existência, quiça, ser por breves momentos um pássaro livre, totalmente livre, sem precisar de um “amanhã que cante”?! Não faço ideia como acabará a história, o mais certo é o pardal debicar o paio nobre da moça e ser enxotado de vez...”.

Acontece que o pardalito – afinal, uma alvéola macho – foi enxotado três vezes do E.Leclerc, e três vezes regressou ao seu paraíso...
Até há meia dúzia de dias, o “chiquito” – os funcionários do hipermercado baptizaram-no assim – debicava sem cessar na frutaria, nos congelados, nos legumes, na charcutaria; resultado: o chiquito transformou-se numa bola de sebo e já nem conseguia voar...

Há um conjunto de lições que podemos retirar da vida deste passarito...
Chiquito, tal como os Homens, abdicou da liberdade em nome de uma existência plena, feliz e obesa...Os Homens, refere Freud, procuram a mesma felicidade mas a condição humana – a dor, o medo, as frustrações, a angústia, a ausência de sentido, a morte – impede-os de a alcançar...

O que é que nos resta?! Cuidar do nosso “jardim”, como referiu Voltaire no fim do brilhante Cândido; ou seja, entusiasmemo-nos por algo. Sejamos felizes nas casinhas da Cidade Natal, a ouvir o Tino de Rãs, o som dos motores do Quim Madeira ou a Carmencita com o grupo de dança BWS; vibremos com os 750 pais natais, os 100 postos de trabalho no “Titanic”, os navios de cruzeiro na barra da figueira ou o Prof. Marcelo a garantir todas as bolas de ouro da humanidade ao Ronaldo...
Transformemos a Figueira num imenso E. Leclerc: com o Chiquito no seu Jardim do Éden, antes do pecado original; alguém percebe, então, porque é que o raio do pássaro se escapuliu?!

terça-feira, 17 de dezembro de 2013

A Virgindade


Nelson Mandela morre e Jerónimo de Sousa dá os seus sentidos pêsames aos “progressistas e revolucionários” da África do Sul, ou seja, ao A.N.C, um dos partidos mais corruptos e racistas da actualidade...

A boa da Catarina Migliorini, uma inocente brasileira de 20 anos, decidiu leiloar a sua virgindade na internet... Uma lésbica americana ofereceu 232 mil euros, um mexicano 290 mil, um japonês avançou com 600 mil euros, mas um árabe venceu a parada: ofereceu mais de 1 milhão de euros à boa da Catarina! Felizmente, a moça quer construir casas populares e ajudar uma organização não-governamental com o proveito do leilão...

A PSP comprou dois aviõezinhos não tripulados com câmaras de filmar, um barco e duas motas de água de grande potência por 300 mil euros... Sem dinheiro para reparar muitas das suas velhas e decadentes viaturas, a polícia portuguesa passa a poder combater o crime com drones e motas de água de alta potência...

O pavilhão principal do Sobral Cid esteve um mês sem aquecimento central porque a administração do hospital psiquiátrico não tinha 180 euros para pagar o arranjo; tentou-se remediar o problema com aquecedores, que, tendo funcionado ininterruptamente durante 30 dias, consumiram mais de 180 euros em electricidade...

Concordarão comigo, a tonteria e a insanidade inundam o nosso dia-a-dia... Como poderemos combater estes dramas?! Não há combate possível, penso eu, a sociedade e o discurso público estão totalmente imersos neste caldeirão, resta-nos reconhecer a nossa impotência e escalpelizar os sintomas que denunciam as doenças...

Os portugueses, um dos povos da Europa que menos lê – embora se editem, anualmente, milhares de livros! – acorreram em massa às livrarias para adquirir o ensaio sobre a tortura que o académico José Sócrates editou recentemente... Daniel Bessa, ex-ministro socialista, deu, recentemente, uma achega sobre a tortura de Sócrates: “Portugal endividava-se em cerca de 10% do PIB ao ano durante 10 anos seguidos; eram 2 milhões de euros por hora, durante 24 horas por dia, durante 365 dias por ano, durante 10 anos! E a crítica maior que faço ao governo que nos conduziu a esta situação, é que, a determinado momento, a caminho da parede, em vez de travar, acelerou... É suicida!”.

Ou seja, enquanto as baleias, sem razão aparente, se suicidam em massa na costa do Pacífico, os portugueses procuram a luz na tortura de Sócrates...

 Mas a realidade é mesmo esta: um mundo repleto de partidos “revolucionários” como o A.N.C; com vaginas de “Migliorinis” leiloadas a peso de ouro na internet; um estado falido, que corta nas pensões e ordenados mas compra drones para caçar manifestantes desordeiros (aposto que, com drones, os polícias manifestantes não tinham conseguido invadir a escadaria da Assembleia da República...); e, principalmente, um estado que trata os seus doentes mentais desta forma: no Sobral Cid, poupou-se encerrando vários pavilhões, o que obrigou os doentes menos graves a partilhar o mesmo pavilhão dos doentes agudos... Sempre no maior frio, claro... 

Um pouco de sanidade, por favor! Vejamos se, a nível local, o panorama é menos assustador; por exemplo, alguém esteve presente na apresentação da candidatura de João Portugal à Concelhia do PS da Figueira da Foz?! 

O jornal digital Figueira na Hora descreveu desta forma o evento: Mário Paiva, líder distrital dos jovens rosas, assegura que a candidatura de Portugal é “intergeracional”?! Depois, confessa uma enorme “mágoa” e “desilusão” por Tiago Castelo Branco ter avançado contra Portugal! Um tal de José Charana, garante que João tem uma grande “capacidade de orientar os trabalhos num clima de harmonia e cordialidade”?! O seríssimo Carronda apregoa que o grande líder uniu o “partido em torno de um candidato e de um projecto”?!
Nuno Melo Biscaia, por seu turno, afiança que Portugal é “um lutador”, “esforçando-se para atrair investimentos e oportunidades” para o concelho?! António Alves assegura que é um “homem livre”, que não cede a “pressões”, e por isso apoia Portugal?! Fernando Cardoso anuncia que o “progresso e o futuro” do concelho estão em causa nesta eleição?!

O líder, himself, assegura que o PS é “uma segunda família, que me incutiu valores e deveres”?! E explica, também, porque é que se candidatou sem projecto nem programa: “Até dia 14, vamos estar nas freguesias, a ouvir os militantes, para que este seja efectivamente um projecto de todos nós”?!

Só restava a Carlos Monteiro rematar a apresentação desta forma: “Se não o apoiasse, aí sim, teria de me justificar, e não sei como o faria. Teria de dizer: endoideci”...

E depois espantam-se por Portugal ter a taxa mais elevada de doentes mentais da Europa....

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

O Tufão


As parangonas anunciaram uma terrível e dramática tragédia: um tufão tinha varrido do mapa a região central das Filipinas, causando, numa só cidade, 10 mil mortos...

Durante três dias as imagens da devastação inundaram as televisões, com os pivots dos noticiários a salivarem cada vez que repetiam a notícia choque do drama: 10 mil mortes, numa só cidade!

Até que o governo filipino anunciou o balanço oficial de mortos: 4.011 vítimas...

Vivemos na era da estúpida voracidade mediática; mas, o que me importa, é discutir o sentido disto tudo; por exemplo: porque é que uma moça grávida chamada Nanette Salutan, de 40 anos, da cidade de Tacloban (a mais afectada pela tragédia), é arrastada pelas correntes, dribla árvores e postes caídos, e acaba a parir num hospital improvisado, à luz de uma simples lanterna?!

Nanette safa-se nas condições mais inacreditáveis, mas a sua vizinha da frente, Mary Leon, finou-se com os primeiros ventos... Que injustiça gritante é esta?! Faz sentido acreditar que um Deus bom criou este mundo e recheou-o de sofrimento inocente?!

 Leibniz, o matemático e filósofo de Leipzig (1646-1716), encontrou uma solução para esta aparente contradição; declarou, solenemente, que vivemos no melhor dos mundos possíveis!

Segundo Leibniz, Deus, de entre as infinitas possibilidades de organizar o mundo, escolheu a melhor de todas as possíveis, ou seja, a que mais se assemelhava à sua perfeição.

O mundo seria, à priori, como o Deus que Leibniz defendia: racional, perfeito e bondoso. E então, como é que o filósofo justificava o mal e o sofrimento que, muitas vezes, inunda o mundo?!

Leibniz diz-nos, simplesmente, que o número de condenados é muito superior à quantidade dos que se salvam; e que, mesmo nas maiores desgraças, há sempre lugar para algum tipo de redenção...

Vejamos se a teoria se aplica às desgraças recentes da política figueirense:

O partido socialista encontra-se em campanha eleitoral, com dois candidatos de peso: o recandidato João Portugal, deputado da A.R. e novo vereador sem pasta de João Ataíde, e Tiago Castelo Branco, chefe de gabinete do mesmo Presidente da Câmara... Reparem: João Ataíde permitiu que o seu chefe de gabinete se envolvesse num confronto eleitoral com um seu vereador!

E sabem como é feita esta campanha?! Pagando quotas a centenas de militantes! Nem um pingo de discussão política, o que conta é arranjar dinheiro para pagar quota ao rebanho que vota no cacique que lhe prometa mais cargos, favores ou uma qualquer sinecura...

O partido socialista acabou... Mas há questões prementes a colocar: que interesses patrocinam estas campanhas?! O que é que recebem em troca? Tiago Castelo Branco está a utilizar o seu cargo camarário como argumento eleitoral? E João Portugal, continua a utilizar o telefone da Assembleia da República para arrebanhar os militantes do PS figueirense?!    

Mas digam-me: este PS tem salvação? Este é o melhor dos mundos rosas possíveis?!

Já Miguel Almeida, após a estrondosa derrota de Setembro passado, regressou à liça dando uma entrevista a um jornal local; nesta, Almeida garante que tem vontade de se voltar a recandidatar... Reparem: este homem, que passou um ano em campanha eleitoral; que contactou centenas de figueirenses nas visitas que fez a praticamente todas as instituições e grandes empresas do concelho; que gastou milhares de euros numa campanha milionária onde prometeu tudo a todos; vem agora garantir que quer recandidatar-se, apesar de ter tido um dos piores resultados da história autárquica do PSD!

Miguel não está agarrado ao poder como uma lapa?! É este o amor que Almeida tem ao PSD, desejar a reedição de uma derrota anunciada? É este o melhor mundo laranja possível?!

E é este o melhor mundo possível?! Ainda há esperança na redenção?!

Quanto custa um bilhete para as Filipinas?

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O Teatro


“O pior teatro do mundo é a vida”; conhecem frase mais cruel e definitiva?!

Piotr Fomenko - o famoso encenador russo que faleceu o ano passado - é o autor da frase-chave e de uma explicação curiosa quanto ao momento em que o seu teatro se forjou, em plena 2 Guerra Mundial: “Tinha dez anos e vivia com a minha mãe. Uma noite, um bombardeamento mais forte do que os outros deixou-me em estado de choque. Tornei-me um pouco louco. O meu interesse pelo teatro começou com essa loucura. Nada de extraordinário, porque o teatro está cheio de loucos. Se tivesse sido uma pessoa mais razoável, jamais teria podido suportar esta vida”.

Querem acreditar que, comigo, ocorreu algo de similiar graças à política figueirense?!

João Ataíde decide vetar a presença de público numa das reuniões de Câmara, no momento em que a Câmara é considerada a autarquia mais transparente do país...

O PS justifica a decisão com a necessidade de recato, de forma a que os municípios “concorrentes” não tomem conhecimento de “alguns assuntos estratégicos” discutidos em reunião de Câmara?!

 O PSD, em vez de se rir desbragadamente do medo do big brother, ataca violentamente Ataíde, quando na maioria dos municípios portugueses – como as autarquias PSD de Coimbra e Aveiro - só uma das sessões de Câmara é pública...

Ataíde preencheu o seu gabinete com um secretário que é jurista de profissão?! O homem esteve, pelo menos, 5 anos a estudar constitucional, administrativo, reais, obrigações, com alguns dos melhores lentes de direito do país, e acaba nisto, a escrever cartas para o Sr. Presidente ...

João Portugal, o político que passou 4 anos a difamar João Ataíde, não teve vergonha nenhuma e acabou vereador de Ataíde! E o Presidente, em vez de colocar o rapaz a trabalhar – já é tempo! – transforma-o num vereador sem tempo e sem pasta...

Quem consegue explicar toda esta insanidade?!

Porque é que ninguém discute o que é verdadeiramente relevante?!

Fez sentido João Ataíde ter ido buscar para vereadora Ana Oliveira, uma cidadã que nunca tinha intervido politicamente até ao dia em que colocou os pés na Câmara?! Faz sentido o Presidente concentrar em si “pelouros” fundamentais, como o financeiro e o administrativo, quando tem toda uma autarquia para governar?! E fez algum sentido a arrogância e pesporrência com que Ataíde respondeu à oposição, na primeira reunião do Executivo?!

Realmente, “o pior teatro do mundo é a vida” política...

 

P.S. - Sabem como é que o gabinete de João Ataíde descreveu as parcas atribuições de João Portugal no Executivo? Desta forma: João irá coadjuvar nas “questões de promoção e apoio a medidas e acções visando o desenvolvimento do comércio e da qualidade da oferta turística do município”.

Perceberam?! Existe a Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz, mas será o inefável João Portugal a desenvolver o comércio figueirense! E quanto à “qualidade da oferta turística do município”, o que irá fazer Joãozinho?! Vai inspeccionar a qualidade de todos os quartos de hotel, pensões e residênciais do burgo?! Vai provar todas as iguarias servidas à turistada nos restaurantes do concelho?!

Há momentos em que fico com pena que a Câmara da Figueira seja  considerada a mais transparente do país; porque é que esta frase tonta não ficou guardada a sete chaves?!