quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

A pevide

A senhora das pevides já quase não borda; a Maria agora é a sua vida. Não que a vendedora de pevides, tremoços e cajus do Bairro Novo procure alienar-se com o cor-de-rosa da revista de coração, nada disso, a realidade luminosa do Picadeiro basta-lhe, preenche-a: a calçada está limpinha, sem pegadas chatas de clientes; o petinga destila charme, veste bem, cheira bem, é um aristocrata não um pedinte; os drogados fogem para o lado do Nicola, a Senhora mal vê a vagabundagem, o Piza Hut e casino; aliás, para ela só temos Nicola, Páteo das Galinhas, Parque-Cine, orquestras no Casino Oceano, garraiadas infantis, burguesia, espanhóis, refugiados, etc; porque será, então, que o glamour das vedetas tv da revista Maria são a vida da senhora das pevides?! Não lhe basta este irreal Bairro Novo vintage dos anos 50 e 60, que ela, aliás, jura ainda existir?! Não faz sentido julgar a sanidade da senhora ou dos figueirenses; continuamos a viver na glória passada, é uma entropia para encarar este presente: picadeiro deserto no inverno e a meio gás no verão, sempre com o Petinga a comandar os aristocratas restantes... Mas não podemos fazer nada para reanimar o Bairro Novo?! Insuflar vida ao moribundo, chicotear o morto-vivo, ressuscitar o nobre patriotismo “bairro-novense”? Podemos, mas antes sigamos para o Jumbo; o glamour da fast food bate, de longe, a pevide da senhora; só falta o petinga...     


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