terça-feira, 6 de março de 2012

Os gregos


Tenho uma admiração especial pelos gregos, os de ontem e os de hoje. Os do passado porque nos transmitiram a forma de governo que nos nossos dias ainda é por todos considerada como má, mas a melhor que se conhece; os de hoje porque se opõem com tenacidade às imposições da Troika, batem-se galhardamente nas ruas, fazem greves, mendigam e assaltam, e têm o descaramento de fazer conferências de imprensa com uma moldura de militares a desafiar os alemães e, ainda por cima, exigem mais trinta ou quarenta mil milhões de euros, porque os últimos 130 mil milhões já se foram.
Eu chego a casa tão cansado para arranjar uns euritos destinados a pagar os salários dos meus colaboradores que jamais poderia ter participado numa manifestação ou feito uma exigência na rua, a atirar pedras à polícia. Como todos os portugueses, cultivo, além dos tradicionais brandos costumes, um masoquismo muito próprio: ponho-me a ouvir as notícias na TV (a ver os gregos a divertirem-se) e a ler os jornais do dia. Agravada a depressão, fico tão extenuado que consigo dormir a noite toda em descanso. Isto é muito alienante, eu sei, e o Marx e o Engels já descreveram esta alienação que nos impede de reagir, mas que hei-de fazer?! Os media são o meu ópio.
Há, no entanto, uma peça que me serve de contrabalanço às desgraças do quotidiano. São as notícias do diário As Beiras, sobretudo as da página da Figueira. Se alguma coisa ainda me faz rir e acreditar na luz ao fundo do túnel (e, neste caso, não é a de um TIR) é o saboroso noticiário que ali vem. As notícias raramente dizem pouco mais do que alguma coisa sobre os assuntos, tal é a exiguidade das palavras (será que a impressão é paga ao caracter?), embora os títulos consigam sempre suplantar a imaginação de quem as lê. Quem dirige o jornal partiu do princípio que os portugueses não lêem, não gostam de ler e se a tal se atrevem não percebem nada; o melhor, portanto, é poupar-lhes o trabalho da leitura. Mas, se quiserem um exemplo, reparem na edição do dia 5: a página trazia no canto esquerdo uma coluna de opinião do Miguel Almeida, “consultor para a área do ambiente” (ah,ah,ah!), intitulada “um novo tempo”, no canto direito uma notícia sobre o (adivinhem?) Miguel Almeida, intitulada, “Miguel Almeida lidera concelhia do PSD”, e, no centro da página, um título onde se lia “investigação criminal em debate...”. Vocês resistem a não rir?
Depois de nos andar a impingir a personagem do novo líder laranja durante várias edições, a página das Beiras só não a mete nas farmácias de serviço porque não dá. Mas como se anuncia aí uma nova Era e nós não somos os gregos, um dia destes o jornal vai conseguir fazê-lo: “Farmácia Almeida, remédios para todas as doenças!”. A democracia é tão gira...

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