domingo, 8 de abril de 2012

A Lua

A Lua morreu e a autópsia foi inconclusiva; figado, coração, pulmões, rins, nada a apontar, parecem de uma gata jovem quando a lua, ou Luna, vivia há duas décadas nesta dimensão. O mundo repleto de mortandades, tragédias, dilacerantes dilemas emocionais e eu confinado a isto: um corpo de gata, branco, alvo, luminoso, agora féretro rígido...

O que nos resta senão caminhar em frente?! Nada... Caminhar em sentido literal é outra coisa, percorrer as Abadias na Primavera intermitente de Abril é uma novidade para mim; temos vento, muito, nuvens volumosas e com formas humanas, frio até, mas rasgos luminosos de sol sobre a passarada empoleirada no arvoredo; o chilrear incessante da passarinhada – estão a ver como os homens e os animais mal se distinguem? - representa a mesma melodia, nem as pequenas variações perturbam a harmonia.

E é mesmo isto que perturba e intriga: num repente a cidade é engolida pela natureza, nas Abadias são os chorões, choupos, plátanos, tílias, palmeiras, pinheiros mansos e bravos, acácias e pilriteiros que dominam... Mas, curiosamente, a natureza parece-se muito com o homem: estas árvores, algumas de grande porte, têm expressão, movimento, personalidade, juro a pés juntos que não ensandeci de vez!
Felizmente não sou o único primitivo a acreditar neste fenómeno, já na pré-história os egípcios e os indianos acreditavam que a alma humana podia encarnar em vegetais e animais; e, porque não, transformar esta crença num exercício político?!

Daniel Santos, grande mestre em urbanismo, não poderia bem ser um chorão, árvore com a capacidade de drenar os solos mais húmidos?! E João Portugal não dava um belo choupo - na espécie choupo tremedor (populus tremula) -, com as suas raízes tremendamente invasoras e destrutivas?! E não há um conjunto de “Migueis Almeidas” espalhados pelo território, verdadeiras Acácias a disseminarem-se e a destruírem os ecossistemas?! A botânica política é mesmo um território inexplorado, nem imagino que árvores corresponderão a Passos Coelho, José Sócrates, Marcelo, Cavaco, etc; apenas fico com a certeza que, se Deus existisse, nunca teria plantado tal arvoredo nesta ditosa pátria.  

Mas gostava de vos falar num político que não se assume, similar àquele arbusto pilreteiro das Abadias que nunca se assumiu como árvore pequena. Falo de Domingos Silva, administrador do Casino da Figueira mas verdadeiro político em acção; querem exemplos?! O casino vende jogo e animação mas não pára de tentar educar o povo (até as criancinhas do concelho puderam aprender a ser polícias, bombeiros e militares num casino!); não há colectividade e agrupamento concelhio que não tenha passado já pelo casino, decerto a animação que os clientes do jogo mais apreciam; para não falar nas vedetas da tv e nas grandes cabeças políticas deste país que não páram de arribar no casino; perguntarão, tudo isto não é bom?!

É óptimo! O problema é a situação financeira do Casino da Figueira, salvo erro, já foram despedidos mais de 80 trabalhadores para que as cartas   continuem a ser lançadas no casino; e eu pergunto, sem a menor demagogia: como se sentirá um trabalhador demitido ao saber que o casino paga uma pipa de massa à Fátima Campos Ferreira?! Dizem que recebe 10 mil euros por cada entrevista que efectua no casino... E este mediatismo todo serve para quê? Em tese, o casino não deveria estar agora a contratar mais pessoal, para fazer face ao aumento de clientes que o mediatismo sempre proporciona?!

Perguntas fundamentais para uma cidade que ainda depende muito do casino; não nos podemos arriscar a, no fim da actual concessão de jogo, perdermos o casino para Coimbra, Aveiro ou Leiria. Até porque perderíamos o semanário O Figueirense - propriedade do casino -, o primeiro jornal de casino do país a assumir uma postura anti-poder; neste momento o periódico ataca ferozmente o executivo camarário socialista, mas tenho a certeza que o jornal terá a mesma atitude no dia em que o político Domingos Silva for Presidente da Câmara da Figueira da Foz; querem apostar?!

Eu também aposto no seguinte: tenho a certeza que um dia vou reencontrar a minha gata Luna; vamos ser dois pinheiros das Abadias...



  




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