sexta-feira, 27 de abril de 2012

O Sofista


Qual é o vossa máxima favorita? “Só sei que nada sei” ou “o homem é a medida de todas as coisas”?!
Ambas pertencem a outro mundo, à Grécia Antiga de Sócrates e dos Sofistas, mas, curiosamente, servem bem para definir este tempo, pelo menos no que toca ao homem ser, agora, definitivamente, a “medida de todas as coisas”.

É claro que há reservas morais no mundo, gente que não embarca no relativismo prático dos sofistas onde o prazer individual é o único bem; vejam o exemplo do monarca de Espanha que, borrifando-se para os 5 milhões de desgraçados desempregados - muitos futuros suicidas - viajou com a sua amante para o Botswuna, matou um elefante e declarou: “perdonem-me, mas el hombre és la medida de todas las cosas!”.
É claro que todos gostaríamos que Juan Carlos e os poderosos do mundo fossem como Sócrates o grego, pois procurariam sempre a essência da justiça, da virtude e do bem; e, convictamente, diriam: “só sei que nada sei”.

Eu sei que é uma utopia, até porque Sócrates vivia na maior pobreza, nada lhe importava senão cumprir o seu ritual: diariamente acordava de madrugada, tomava um rápido pequeno-almoço à base de pão molhado em vinho e, já trajado com uma modesta túnica e um grosso manto, dirigia-se para um templo, uma loja, os banhos públicos, qualquer lugar onde pudesse encontrar um parceiro de discussão; Sócrates só era feliz conversando, discutindo, pregando a ausência de qualquer certeza, apenas importava o pensamento claro, o domínio da razão e conhecermo-nos a nós próprios; Deus andará por aí...
Sócrates não escreveu nenhum livro, não quis discípulos ou escola, mas o seu método socrático de discussão das problemáticas mantém-se válido até aos dias de hoje. Refiro-me àqueles diálogos onde um dos interlocutores questiona insistentemente o seu oponente com perguntas simples, até irritantes, mas que servem para que o outro reflicta, raciocine e encontre respostas... talvez seja denso explicar assim o método, passemos a exemplificar o que escrevo ficcionando um diálogo onde se aplica o método socrático:

- “Eu acho que o director do semanário O Figueirense, Joaquim Gil, escreveu um editorial cobarde.” – afirmou Rui Beja.
- “Mas o que entendes tu por cobardia?!” – questionou Sócrates.

- “Cobardia foi o que Gil escreveu no seu penúltimo editorial. Sem nunca nomear o meu nome, adjectivou o meu carácter com uma série de insultos. Isso é a cobardia mais vil!” – respondi, indignado.
 - “Mas diz-me, como podes classificar o texto de cobarde se ainda não me apresentaste uma definição de cobardia?!” – afirmou Sócrates, já irritado.

Preferi não responder ao filósofo chato, importa mais explicar aos leitores o que motiva esta reacção.
Eu efectuei nesta Rua da Liberdade críticas sérias e educadas a duas instituições da cidade, o Casino e o periódico O Figueirense.
No caso do Casino, chamei a atenção para o facto de o seu administrador, Domingos Silva, gerir o casino como se fosse um político em campanha: distribui prebendas e subsídios a torto e a direito, sem aparente benefício económico para a empresa que o Casino é. O resultado desta política está à vista de todos: o casino encontra-se numa situação económica periclitante, tendo já despedido 80 trabalhadores!

Quanto ao Figueirense, constatei uma realidade que toda a cidade comenta em surdina: o jornal transformou-se num contra-poder à actual maioria autárquica.
Reparem como Joaquim Gil reagiu, no seu penúltimo editorial, a estas 2 críticas construtivas: “Dizem-me que por aí se escreveu ser este semanário “contra o poder”. Patetice, rematada patetice! Um disparate pegado que não merecia uma linha minha sequer, não fosse o facto de ser revelador de uma certa mentalidade sobre o “poder”, a forma como é exercído, a forma como é encarado. (...) Pior que tudo é que a seu lado logo surgem os aduladores, os louvaminhas, em linguagem comum, os “lambe botas”, os “queixinhas” (uma espécie de subchefes de turma que nunca cresceram) na busca de um lugarzito, de uma prebenda, de uma avença, de uma assessoriazita. Nesta corte jamais me verão, como está bem de ver!”.

Acontece que, na verdade, Joaquim Gil está nesta “corte”, “como está bem de ver”!
O causídico Gil prestou serviços para a Figueira Grande Turismo – terá sido uma “avença” ou uma “assessoriazita”?! - na altura em que a empresa era dirigida por Lídio Lopes. Foi, portanto, um gesto bonito ver Gil apresentar o livro de crónicas lançado recentemente pelo mesmo Lídio; 700 páginas de literatura merecem sempre um intelectual da estirpe de Joaquim Gil!

E porque não recordar o antepenúltimo editorial de Gil, onde o director agradece o empenho pessoal de Domingos Silva na operação que permitiu trazer o navio Sagres à Figueira – para Gil, a vinda do navio representou o “acontecimento” do ano na Figueira da Foz! Como vou classificar este elogio ufano de Gil ao seu patrão? Chamo-lhe “adulador, louvaminhas, em linguagem comum, “lambe botas”?!
Agora, não me furto a falar da minha vida profissional e política, para que os leitores possam avaliar se eu ando em “busca de um lugarzito, de uma prebenda, de uma avença, de uma assessoriazita”.

Eu já estive envolvido na política partidária, no caso, no PS, no tempo em que o partido socialista estava na oposição. Mas, neste tempo, em que o PS está no poder, ou seja, quando pode distribuir prebendas e avenças, eu tenho sido o maior e mais contundente crítico do líder concelhio do PS, João Portugal. Acham que quem quer um “lugarzito” critica desta forma o chefe dos socialistas?!
 Vejam o contraste: eu andei no jornalismo e nunca recebi um tostão pelo meu trabalho; passei pela política e nunca tive um lugar, um cargo, uma prebenda. Joaquim Gil, que nunca andou pelo jornalismo, acabou como director de um jornal que se resume a isto: propagandear as actividades de um casino e dizer mal do executivo camarário; é triste a sina de quem recebe dinheiro para ser a voz do dono...

Antes ser um vagabundo similar a Sócrates - que não cobrava um tostão pelas suas lições - do que parecer-me com Joaquim Gil, uma espécie de sofista; daqueles que, a troco de uns patacos, ensinavam retórica a políticos ávidos de poder.
A lição era sempre a mesma: nada de princípios ou ética, o “homem é a medida de todas as coisas”...

Um comentário:

  1. Então Rui!
    Também não será abuso da tua parte ter a pretensão de administrar o Casino.
    O teu amigo Tavares já não participa com as suas ideias nos teus artigos.
    Não seria melhor não atirar pedras...

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