Qual é o
vossa máxima favorita? “Só sei que nada sei” ou “o homem é a medida de todas as
coisas”?!
Ambas
pertencem a outro mundo, à Grécia Antiga de Sócrates e dos Sofistas, mas, curiosamente,
servem bem para definir este tempo, pelo menos no que toca ao homem ser, agora,
definitivamente, a “medida de todas as coisas”.
É claro que
há reservas morais no mundo, gente que não embarca no relativismo prático dos
sofistas onde o prazer individual é o único bem; vejam o exemplo do monarca de
Espanha que, borrifando-se para os 5 milhões de desgraçados desempregados -
muitos futuros suicidas - viajou com a sua amante para o Botswuna, matou um
elefante e declarou: “perdonem-me, mas el hombre és la medida de todas las
cosas!”.
É claro que todos gostaríamos que Juan Carlos
e os poderosos do mundo fossem como Sócrates o grego, pois procurariam sempre a
essência da justiça, da virtude e do bem; e, convictamente, diriam: “só sei que
nada sei”.
Eu sei que é
uma utopia, até porque Sócrates vivia na maior pobreza, nada lhe importava
senão cumprir o seu ritual: diariamente acordava de madrugada, tomava um rápido
pequeno-almoço à base de pão molhado em vinho e, já trajado com uma modesta
túnica e um grosso manto, dirigia-se para um templo, uma loja, os banhos
públicos, qualquer lugar onde pudesse encontrar um parceiro de discussão;
Sócrates só era feliz conversando, discutindo, pregando a ausência de qualquer
certeza, apenas importava o pensamento claro, o domínio da razão e
conhecermo-nos a nós próprios; Deus andará por aí...
Sócrates não
escreveu nenhum livro, não quis discípulos ou escola, mas o seu método
socrático de discussão das problemáticas mantém-se válido até aos dias de hoje.
Refiro-me àqueles diálogos onde um dos interlocutores questiona insistentemente
o seu oponente com perguntas simples, até irritantes, mas que servem para que o
outro reflicta, raciocine e encontre respostas... talvez seja denso explicar
assim o método, passemos a exemplificar o que escrevo ficcionando um diálogo
onde se aplica o método socrático:
- “Eu acho
que o director do semanário O Figueirense, Joaquim Gil, escreveu um editorial
cobarde.” – afirmou Rui Beja.
- “Mas o que
entendes tu por cobardia?!” – questionou Sócrates.
- “Cobardia
foi o que Gil escreveu no seu penúltimo editorial. Sem nunca nomear o meu nome,
adjectivou o meu carácter com uma série de insultos. Isso é a cobardia mais
vil!” – respondi, indignado.
- “Mas diz-me, como podes classificar o texto de
cobarde se ainda não me apresentaste uma definição de cobardia?!” – afirmou
Sócrates, já irritado.
Preferi não
responder ao filósofo chato, importa mais explicar aos leitores o que motiva
esta reacção.
Eu efectuei
nesta Rua da Liberdade críticas sérias e educadas a duas instituições da
cidade, o Casino e o periódico O Figueirense.
No caso do
Casino, chamei a atenção para o facto de o seu administrador, Domingos Silva,
gerir o casino como se fosse um político em campanha: distribui prebendas e
subsídios a torto e a direito, sem aparente benefício económico para a empresa
que o Casino é. O resultado desta política está à vista de todos: o casino
encontra-se numa situação económica periclitante, tendo já despedido 80
trabalhadores!
Quanto ao
Figueirense, constatei uma realidade que toda a cidade comenta em surdina: o
jornal transformou-se num contra-poder à actual maioria autárquica.
Reparem como
Joaquim Gil reagiu, no seu penúltimo editorial, a estas 2 críticas
construtivas: “Dizem-me que por aí se escreveu ser este semanário “contra o
poder”. Patetice, rematada patetice! Um disparate pegado que não merecia uma
linha minha sequer, não fosse o facto de ser revelador de uma certa mentalidade
sobre o “poder”, a forma como é exercído, a forma como é encarado. (...) Pior
que tudo é que a seu lado logo surgem os aduladores, os louvaminhas, em
linguagem comum, os “lambe botas”, os “queixinhas” (uma espécie de subchefes de
turma que nunca cresceram) na busca de um lugarzito, de uma prebenda, de uma
avença, de uma assessoriazita. Nesta corte jamais me verão, como está bem de
ver!”.
Acontece
que, na verdade, Joaquim Gil está nesta “corte”, “como está bem de ver”!
O causídico
Gil prestou serviços para a Figueira Grande Turismo – terá sido uma “avença” ou
uma “assessoriazita”?! - na altura em que a empresa era dirigida por Lídio
Lopes. Foi, portanto, um gesto bonito ver Gil apresentar o livro de crónicas
lançado recentemente pelo mesmo Lídio; 700 páginas de literatura merecem sempre
um intelectual da estirpe de Joaquim Gil!
E porque não
recordar o antepenúltimo editorial de Gil, onde o director agradece o empenho
pessoal de Domingos Silva na operação que permitiu trazer o navio Sagres à
Figueira – para Gil, a vinda do navio representou o “acontecimento” do ano na
Figueira da Foz! Como vou
classificar este elogio ufano de Gil ao seu patrão? Chamo-lhe “adulador,
louvaminhas, em linguagem comum, “lambe botas”?!
Agora, não me furto a falar da minha vida
profissional e política, para que os leitores possam avaliar se eu ando em
“busca de um lugarzito, de uma prebenda, de uma avença, de uma assessoriazita”.
Eu já estive
envolvido na política partidária, no caso, no PS, no tempo em que o partido
socialista estava na oposição. Mas, neste tempo, em que o PS está no poder, ou
seja, quando pode distribuir prebendas e avenças, eu tenho sido o maior e mais
contundente crítico do líder concelhio do PS, João Portugal. Acham que quem
quer um “lugarzito” critica desta forma o chefe dos socialistas?!
Vejam o contraste: eu andei no jornalismo e
nunca recebi um tostão pelo meu trabalho; passei pela política e nunca tive um
lugar, um cargo, uma prebenda. Joaquim Gil, que nunca andou pelo jornalismo,
acabou como director de um jornal que se resume a isto: propagandear as
actividades de um casino e dizer mal do executivo camarário; é triste a sina de
quem recebe dinheiro para ser a voz do dono...
Antes ser um
vagabundo similar a Sócrates - que não cobrava um tostão pelas suas lições - do
que parecer-me com Joaquim Gil, uma espécie de sofista; daqueles que, a troco
de uns patacos, ensinavam retórica a políticos ávidos de poder.
A lição era
sempre a mesma: nada de princípios ou ética, o “homem é a medida de todas as
coisas”...
Então Rui!
ResponderExcluirTambém não será abuso da tua parte ter a pretensão de administrar o Casino.
O teu amigo Tavares já não participa com as suas ideias nos teus artigos.
Não seria melhor não atirar pedras...