segunda-feira, 3 de março de 2014

A Borboleta


Qual é a vossa opinião sobre o início de tudo?

 Se o governo de Marcelo Caetano não tivesse publicado a lei 353/73 - que equiparou os oficiais milicianos aos do quadro permanente, gerando grande contestação entre os oficiais de carreira -, o movimento dos capitães e, posteriormente, o MFA, teriam avançado para a revolução de Abril?!

E a ida de Passos Coelho ao programa de Manuel Luís Goucha e Teresa Guilherme, “Olha que Dois” (1993), onde Goucha prevê que Passos será Primeiro-Ministro; será que esta premonição inspirou o grande líder a avançar para o cargo de comandante da nação?!

E se John Lennon não tivesse criado uma banda no liceu chamada The Black Jacks e, posteriormente: The Quarrymen, Johnny and The Moondogs, Long John and The Beatles, The Beetles e, por fim, os aclamados The Beatles, acham que os Beatles portugueses, os Sheiks de Paulo de Carvalho e Fernando Tordo, teriam aparecido em 1963?! E Tordo, 51 anos depois, teria rumado como um desgraçado para o Brasil?

A teoria do caos e o efeito borboleta permitem exercícios  absurdos como estes; o que estas leis defendem resume-se a isto: pequeníssimas alterações no início de um determinado evento podem originar consequências imprevisíveis e inimagináveis no futuro. Daí a célebre interrogação de Lorenz, o criador do efeito borboleta: “o bater de asa de uma borboleta no Brasil pode originar um tornado no Texas?”.

Como a teoria do caos pode aplicar-se às ciências humanas, coloquei-me a seguinte questão: qual foi o desvio inicial da terceira república?! A quem podemos assacar culpas?

Aos militares revoltosos, não; fizeram a revolução e devolveram o poder ao povo. Os portugueses, esses, passaram a bola aos políticos, que governaram de forma clientelar e despesista para agradar ao povo...

Eduardo Lourenço, o nosso maior pensador, pensa que não há qualquer desvio; no genial “O Labirinto da Saudade”, Lourenço afirma que “somos um povo de pobres com mentalidade de ricos. Se tivesse acrescentado qualquer coisa como “ricos pobres”, ou ricos imaginários, teria resumido oitocentos anos de história pátria e dado uma última demão no diagnóstico célebre da nossa “intrínseca loucura” lavrado por Oliveira Martins”.

E Lourenço discrimina essa “loucura”: Portugal é um país onde “não trabalhar foi sempre sinal de nobreza”, onde refinamos essa herança ancestral transferindo para o preto essa penosa obrigação. É mesmo essa a autêntica essência dos Descobrimentos, o resto, embora imenso, são adjacências”.

E acrescenta: o país vive à cata da graça, do milagre, e vive para o “aparato e aparência”; “Há dois anos que se desenha e avoluma a já agora dramatizada “crise” em que famílias inteiras, das que é costume chamar modestas, gastam num almoço, calmamente, o décimo do que um dos seus membros pode ganhar por mês”.   

“Mas é escusado pensar que a metamorfose da maravilhosa revolução dos cravos em degradado banquete dos “cravas”, para o etiquetar com a vulgaridade que merece, se deva nominal e grupalmente a alguém. É uma culpa anónima, uma maquinação de poderes obscuros, uma “pouca sorte” que nada tem a ver com a mentalidade colectiva tantas e tantas vezes ilustrada. Culpados não existem...”.

 Em suma: Portugal nada tem a ver com a teoria do caos; nesta pátria, uma asa de borboleta não provoca um tornado no Texas...


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