Qual é a vossa opinião sobre o início de tudo?
E a ida de Passos Coelho ao programa de Manuel Luís Goucha e Teresa
Guilherme, “Olha que Dois” (1993), onde Goucha prevê que Passos será
Primeiro-Ministro; será que esta premonição inspirou o grande líder a avançar
para o cargo de comandante da nação?!
E se John Lennon não tivesse criado uma banda no liceu chamada The Black
Jacks e, posteriormente: The Quarrymen, Johnny and The Moondogs, Long
John and The Beatles, The Beetles e, por fim, os aclamados The Beatles,
acham que os Beatles portugueses, os Sheiks de Paulo de Carvalho e
Fernando Tordo, teriam aparecido em 1963?! E Tordo, 51 anos depois, teria
rumado como um desgraçado para o Brasil?
A teoria do caos e o efeito borboleta permitem exercícios absurdos
como estes; o que estas leis defendem resume-se a isto: pequeníssimas
alterações no início de um determinado evento podem originar consequências
imprevisíveis e inimagináveis no futuro. Daí a célebre interrogação de Lorenz,
o criador do efeito borboleta: “o bater
de asa de uma borboleta no Brasil pode originar um tornado no Texas?”.
Como a teoria do caos pode aplicar-se às ciências humanas, coloquei-me a
seguinte questão: qual foi o desvio inicial da terceira república?! A quem
podemos assacar culpas?
Aos militares revoltosos, não; fizeram a revolução e devolveram o poder ao
povo. Os portugueses, esses, passaram a bola aos políticos, que governaram de
forma clientelar e despesista para agradar ao povo...
Eduardo Lourenço, o nosso maior pensador, pensa que não há qualquer desvio;
no genial “O Labirinto da Saudade”, Lourenço afirma que “somos um povo de
pobres com mentalidade de ricos. Se tivesse acrescentado qualquer coisa como
“ricos pobres”, ou ricos imaginários, teria resumido oitocentos anos de
história pátria e dado uma última demão no diagnóstico célebre da nossa
“intrínseca loucura” lavrado por Oliveira Martins”.
E Lourenço discrimina essa “loucura”: Portugal é um país onde “não
trabalhar foi sempre sinal de nobreza”,
onde refinamos essa “herança ancestral transferindo para o preto
essa penosa obrigação. É mesmo essa a autêntica essência dos Descobrimentos, o
resto, embora imenso, são adjacências”.
E acrescenta: o país vive à cata da “graça”, do “milagre”, e vive
para o “aparato e aparência”; “Há dois anos que se desenha e avoluma
a já agora dramatizada “crise” em que famílias inteiras, das que é costume
chamar modestas, gastam num almoço, calmamente, o décimo do que um dos seus
membros pode ganhar por mês”.
“Mas é escusado pensar que a metamorfose da maravilhosa revolução dos
cravos em degradado banquete dos “cravas”, para o etiquetar com a vulgaridade
que merece, se deva nominal e grupalmente a alguém. É uma culpa anónima, uma
maquinação de poderes obscuros, uma “pouca sorte” que nada tem a ver com a mentalidade
colectiva tantas e tantas vezes ilustrada. Culpados não existem...”.
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