Um nó e duas
pontas encarnadas; cada um dos Plátanos, Choupos, Olaias, Palmeiras e
Eucaliptos do Jardim Municipal da Figueira da Foz tem direito a um laço
natalício; durante a época festiva, temos o Jardim Natal...
Casinhas de
docinhos, travessuras, abraços, insufláveis, selfies, carrocel, Pai Natal,
artes, ténis, origami, farturas, castanhas, pipocas, face paiting, simulador de
kart, Presépio, animais reais como o burro Batatinha e a cabra Riscada, etc,
etc; o jardim transformou-se num paraíso para a criançada e para as suas
plantas, flores, arbustos e árvores, em júbilo com os lacinhos e os cogumelos
artificiais que decoram os seus troncos e ramos.
Os
figueirenses têm acorrido em massa a este Eldorado de felicidade, mas, curiosamente,
a mim só me ocorre uma quadra do poema de Miguel Torga, Só eu Sinto Bater-lhe o Coração: Dorme a vida a meu lado, mas eu velo. (Alguém há-de guardar este
tesoiro!) E, como dorme, afago-lhe o
cabelo, Que mesmo adormecido é fino e loiro.
Há pelo
menos duzentos anos que esta tristeza endémica dos portugueses é atribuida à
irrealidade do seu carácter, ao choque entre a miséria nativa e o convencimento
de que somos um povo superior, ao saudosismo da glória passada, à esperança vã
de que regressará o encoberto e o quinto império...
Mais:
Unamuno, no seu Portugal Povo de Suicidas, sentencia: Portugal é um povo triste, até mesmo quando sorri. A sua literatura,
inclusive a sua literatura cómica e jocosa, é uma literatura triste. Portugal é
um povo de suicidas, talvez um povo suicida. A vida para ele não tem um sentido
transcendente. Querem viver, sim, talvez; mas para quê? Mais vale não viver.
Os
figueirenses parecem querer alterar o rumo da história procurando a felicidade
na casinha das travessuras, no burro Batatinha ou nos workshops de origami;
tudo isto é uma irrealidade... Bem melhor que o poema de Torga: Dorme a vida a meu lado, mas eu velo.
(Alguém há-de guardar este tesoiro!).
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